Um projeto envolvendo 29 hospitais-escola investigará a razão pela qual muitos hipertensos, mesmo usando a medicação, não conseguem controlar a pressão.
Mais da metade dos hipertensos têm a doença descontrolada-a maioria, por falta de adesão ao tratamento.
O estudo multicêntrico, financiado pelo Ministério da Saúde, vai mapear pacientes resistentes ao tratamento. Enquadram-se nesse critério os que já tenham tentando usar três classes de drogas.
O cardiologista José Eduardo Krieger, professor da USP, diz que os pesquisadores vão tentar correlacionar dados sobre a resistência aos medicamentos com as variantes genéticas de cada pessoa. "Hoje, com os chips de DNA, a gente pode fazer um milhão de indagações para cada amostra de sangue."
Ainda hoje o tratamento da hipertensão é feito por tentativa e erro. A escolha do remédio tem base na experiência do médico e em estudos clínicos, que não servem para perfis individuais.
Krieger, que dirige o laboratório de genética do InCor, explica que grupos brasileiros já desenvolvem estudos nesse sentido, mas, isoladamente. "Precisamos levantar um conjunto de variantes genéticas e usar isso com fins terapêuticos", diz.
Um desses estudos foi feito pela USP de Ribeirão Preto e publicado na revista médica "Atherosclerosis". O grupo identificou alguns padrões genéticos que podem funcionar como marcadores para maior ou menor probabilidade da pressão alta.
Segundo o cardiologista Fernando Nobre, professor da faculdade de medicina da USP de Ribeirão Preto, quando as pessoas sintetizam mais óxido nítrico -substância que relaxa os vasos sanguíneos-, tendem a controlar melhor a pressão.
"Quando há um defeito nessa produção, ocorre mais vasoconstrição e a pressão é maior", explica Nobre.
A expectativa é que, no futuro, um simples exame de sangue defina se a hipertensão está relacionada à deficiência ou ao excesso de determinadas substâncias. "Vamos dar remédios capazes de interferir na ação dessa substância", espera ele.